outubro 31, 2009

| a bruxa de blair faz escola |


Por mais que seja um filme divisor de opiniões, A Bruxa de Blair (que eu adoro) fez escola. A estética amadora e documental para um filme de terror demorou a mostrar sua força, mas uma série de produções bem-sucedidas provou que este pode ser um sub-gênero bem lucrativo. Afinal, são longas que custam pouco e quando dão certo mostram uma arrecadaçao muito superior ao seu orçamento inicial. Claro, uma dose de jogada de marketing esperta só ajuda. Eu, particularmente, adoro esses filmes porque eles dão um toque de realidade em um assunto fantasioso para a maioria.


Já tivemos Cloverfield, de Matt Reeves, sobre o ataque de um mostro em Nova York que é captado pela filmadora de um sujeito que só queria registrar uma festa de ano novo. Foi logo seguido por REC, produção espanhola protagonizada por uma repórter que ao cobrir o trabalho do corpo de bombeiros se vê presa em um prédio ao lado de outras pessoas. O edifício é isolado devido a um vírus e todo o terror vivido pelos personagens é filmado pelo cameraman. Agora tem este Atividade Paranornal, filme que custou 11 mil dólares e já arrecadou 62 milhões só no Estados Unidos. O longa é sobre um casal que se muda para uma casa suburbana e começam a desconfiar da presença de alguma entidade demoníaca. Para comprovarem a suspeita, eles colocam câmeras de vigilância para registrarem evidências do que acontece enquanto dormem.


O sucesso de Atividade Paranormal chamou a atenção dos executivos de Hollywood e uma sequência será produzida. Agora, a verdadeira novidade ocasionada por este fenômeno é o retorno de A Bruxa de Blair. Eduardo Sanchez e Daniel Myrck, diretores do original, vão fingir que o segundo filme nunca existiu (o melhor que eles fazem, aliás) e já estão trabalhando em um projeto que começa logo após o fim do primeiro. É o que disseram para o jornal The Toronto Star. Agora, o que eu não entendo é que a dupla ainda revelou que os atores da produção original vão retornar em papéis pequenos. Como imagino que o novo longa será um projeto que seguirá a mesma estética do primeiro, estou quebrando a cabeça para saber como o trio entrará no terceiro. Espero que Myrck e Sanchez tenham encontrado um ótimo motivo.

| a (boa) surpresa de 2009 |



Em 1977, Woody Allen levou aos cinemas a história de um casal que se apaixonou e viu o relacionamento acabar com o passar do tempo. Na época, Diane Keaton era Annie Hall e Allen era Alvy Singer, dois adoráveis personagens que fizeram história no cinema. Após vários longas retratarem a complexidade de um caso, (500) Dias com Ela passa na frente e consegue encabeçar a lista dos filmes tão bons quanto Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. Comandado pelo diretor de videoclipes Marc Webb e escrito pelos roteiristas de talento duvidoso Scott Neustadter e Michael H. Weber - desculpas a quem gostou de A Pantera Cor-de-Rosa 2 - a comédia romântica é o retrato mais honesto sobre os relacionamentos de hoje em dia em comparações as outras produções do gênero que insistem na aposta dos clichês.



A história é simples. O garoto conhece a garota. O jovem se apaixona e ela não. A partir daí, a trama, em sua uma hora e meia de duração, consegue contar ao máximo quem são os seus personagens e o porque do sofrimento vivido por Tom Hansen. Em uma sequência inicial extremamente bela, o narrador - filmes com narração me conquistam facilmente - explica como a moça se tornou tão fria e quais motivos levaram a Hansen acreditar que ele seria a sua alma gêmea. Mesmo com todas as razões explicadas, o espectador se vê ligado a uma jornada parecida com a de Tom, ele deixa a emoção tomar conta e passa sofrer junto com o rapaz o desastre do relacionamento que o apaixonado criou em sua mente.




Mesmo que já tenho existidos filmes parecidos, como por exemplo o inferior Um Amor Jovem, de 2006, (500) Dias com Ela torna-se um sucesso devido a perfeita sincronia de tudo. A trilha sonora está perfeita, o ritmo é correto, os diálogos estão na medida certa, as atuações estão boas - algo que vou comentar mais a frente - e, é claro, Webb mostra que veio para ficar e já é quisto por estúdios de Hollywood após uma estreia tão expressiva. Para ser mais específico, contarei detalhes importantes sobre o longa, ou seja, quem ainda não viu pare de ler agora. Expectativa e realidade, quando essa cena teve início eu tive certeza que Allen, se ver esta sequência, com certeza iria colocá-la em Annie Hall. Como se não bastasse toda a sensação em primeira pessoa que sentimos ao constatar o sofrimento de Tom, a "expectativa/realidade" consegue de longe ser a melhor parte do filme, o momento mais honesto em que a produção entrega a sua verdade, a decepção, ao espectador.




A produção conta com o sensacional Joseph Gordon-Levitt, que faz um trabalho impecável e promete uma carreira promissora, e Zooey Deschanel, que por sua vez mostra que caiu como um par de luvas para o papel, assim com Keanu Reeves em O Dia em Que Terra Parou, cuja determinante de sua atuação em um alienígena foi a inexpressividade, encarna Summer com a frieza e simpatia que caracterizam a personagem como apaixonável e misteriosa. Sendo assim, como culpar o garoto por se envolver com ela?

Assim como o excelente Encontros e Desencontros, a obra de Webb ganha espaço boca a boca e se torna um dos clássicos atuais, que fogem dos fortes elementos publicitários para contar uma história sobre amor, e não de amor.


(500) Dias com Ela chega aos cinemas em 6 de novembro. O romance também será exibido na Mostra de São Paulo.

Rafael Sandim